E viveram felizes para... Sempre?

Dr.ª Anabela Pedro
Psicóloga Clínica
Cresce-se a ler e a ver em filmes histórias encantadas de romances perfeitos, com contornos únicos e invulgares, quase como se astros e deuses conspirassem para que aquelas pessoas tropeçassem, por um mero e bonito acaso, uma na outra. A ideia de que as relações amorosas são perfeitas, sem problemas e destinadas a um “felizes para sempre” começa, indubitavelmente, a instalar-se em forma de expectativas, desejos e projetos em relação ao próprio e o da relação amorosa em que está a investir.
Mas será que a realidade de uma relação, por mais estável e saudável que seja, é assim tão perfeita e encantada?
Em consulta, quando se ouve que um casal nunca discutiu ou que existe uma idolatração excessiva por parte de um dos membros do casal é motivo para suspeitar que algo não está a funcionar exatamente como deveria. A verdade é que as pessoas (por mais parecidas que possam ser ou parecer) têm percursos, valores, necessidades e exigências diferentes o que, obviamente – e felizmente, diga-se de passagem –, culmina em desentendimentos, trocas de ideias e discussões. Estas discussões podem ser saudáveis e construtivas quando tidas com respeito, e tendo na sua base a escuta ativa, mas poderão também ser fonte de desentendimento no casal, caso a comunicação seja agressiva, em tom de acusação e procura de responsabilidades.

A somar aos desafios do casal real surge a “rotina” que ao longo do tempo se vai instalando na dinâmica do mesmo. O perigo da rotina é a perceção do casal de que a paixão, investimento e atração que existiam no início da relação começaram a diminuir e, em consequência disto mesmo, começarem a questionar o relacionamento e os sentimentos que nutrem um pelo outro.
Neste sentido, é premente que o casal não deixe de investir um no outro: traçando planos diferentes, procurando comunicar de forma saudável e cuidando do par sempre que possível. A ajuda da Psicologia Clínica Individual e/ou da Terapia de Casal, também poderá ser um ótimo veículo para a superação deste tipo de desafios, na medida em que ajuda a definir metas individuais e de casal realistas, explorar necessidades e desenvolver a comunicação aberta entre os membros do casal.
E quando, apesar de todos os esforços, o casal já não está disponível um para o outro e decide terminar a relação?
Esta é uma decisão que envolve muita coragem. Quando se termina uma relação, vários são os lutos que estão a decorrer ao mesmo tempo: a perda da relação amorosa, a perda dos projetos criados em conjunto, a perda de algumas dinâmicas nas relações de amizade criadas no contexto de casal, entre outros. Com estes lutos, surge a necessidade do indivíduo se tornar novamente independente, redescobrir outros caminhos e objetivos, ao mesmo tempo que se confronta com sentimentos de medo, insegurança, instabilidade e, muitas vezes, vergonha.
É neste processo particularmente tumultuoso e desafiante que muitas vezes surgem histórias de pessoas que, por medo de ficarem sozinhas ou de sentirem que já não são capazes de se redefinirem enquanto indivíduo independente do outro, acabam por se sujeitar ou a uma outra relação muito rapidamente ou por se juntarem novamente à pessoa da qual se separaram. Esteja atento caso seja esse o seu caso. O motivo pelo qual se junta a outra pessoa é extremamente importante para definir a qualidade da relação e o seu bem-estar mental e físico.
Tenha compaixão por si. Terminar uma relação é considerado, segundo alguns estudos, o segundo evento psicossocial mais desafiante a nível psicológico seguido da morte de alguém próximo. Por isso, leve o seu tempo. Trate de fazer o seu luto e conecte-se consigo e, apenas depois, tente dar uma segunda oportunidade ao amor.